quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Choro de nuvens


Nublada manhã de domingo...
As gotas de chuva que caem,
Invadem a janela do meu quarto
Respigam o chão
Ouço o rádio e o barulho da chuva
Que cai indiferente, lá fora...
Hoje não tem praia
Não tem a alegria de domingo de sol
Hoje só tem rádio e barulho da chuva...
Mais uma cinza manhã de domingo!
E as chorosas gotas de chuva, molhando o chão do meu quarto...
Seriam as gotas de chuva lágrimas de tristeza?
Chove dentro em mim...

Entre o Adeus e A Madrugada

Nessa noite enluarada
Sigo errante pela estrada
Entre o adeus e a madrugada
Ai de mim, Senhor meu Deus!
Em que coração terei morada
Se não tenho mais a minha amada?
Em melancólica toada
De nostalgia impregnada
Minh'alma dilacerada
Bandoleira, vaga incerta e desolada
Triste essa minha sina..., amaldiçoada!
É solitária e fria essa caminhada
Entre o adeus e a madrugada...

São João del-Rei

Meu coração baiano, caminha incerto pelas esquinas de São João del-Rei
Seus casarios, sua gente, suas cores, seus sabores...
Tudo é enlevação e novidade em meu coração
A madrugada fria me invade os sentidos, me confunde os pensamentos...
Minha saudade de casa, dos amigos que ficaram na estação primeira do Brasil
Se confunde com a tristeza pela iminência da despedida
As horas fugidias me avisam que sou passageiro...
A certeza de que terei de partir
Neblina de manhã e lágrimas
O coração partindo
O coração partido
Sinos dobram, acordando a hora da despedida
Em minha memória, São João del-Rei
Uma mineira cidade
Uma mineira saudade.

Vivências

“Saí daqui diferente de como entrei
Saí com vontades, perguntas e respostas.
Saí para voltar
Voltar para mim
Para meu passado
Que não está em um lugar guardado
Ou num arquivo organizado
Mas está em minha memória
Em meus poros, em meu próprio tempo
Saí daqui diferente de como entrei
Entrei para buscar e acabei deixando...
Entrei para deixar e acabei levando...
Deixei minhas experiências
E levei as suas
Deixei minhas perguntas
E levei outras respostas
Saí daqui como quem sai de um perfumista
Com muitos aromas, com muitas essências...
Saí para voltar para os meus e dizer que é possível
É possível acreditar
É possível buscar
É possível tocar
É possível conservar, preservar, criar e recriar
Como numa ciranda, a vida dá muitas voltas
E na dança e nos movimentos vamos nos refazendo
Vamos nos transformando, vamos nos reencontrando
E marcando o compasso de nossa história
Dos nossos tempos
Dos nossos momentos
Vamos, de mãos juntas
Nesta brincadeira de roda
Contando os nossos causos
Os nossos cânticos
As nossas letras
E como numa grande escultura
Vamos lapidando
Polindo, detalhando a nossa marca chamada cultura“.

Plano de Ação

"Existe um museu dentro de cada indivíduo...
Sou um acervo temporário que deixa rastros
Rastros em fotografias
Rastros em poesias
Rastros na biologia: nos filhos crescidos, nas árvores plantadas
nas casas construídas, nos amigos compartilhados...
Rastros à espera da próxima onda
que os diluirão nas areias da vida"

Isa "Carioca", julho 2008.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quando tudo acabou?

Em que espelho se escondia,
Na palidez do dia-a-dia,
Essa melancólica hora fria?

Tudo acabando e eu não percebia
Que o amor se transformaria
Em solidão de domingo, em madrugada fria.

Em meu coração morava a alegria
Mas ela foi embora: a casa está vazia.
Solitário, agora chora quem antes se ria...

Uma gélida lágrima no meu rosto escorria
Endechas, lamúrias, em lugar de cantoria.
Tornara-se cinza a minha fantasia

Sofre, minha alma, um sofrer de desvalia.
Ferida de morte, em desatada sangria.
Sangra, solitária, minha triste poesia.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ninguém sabe. Ninguém viu!

beijou-me sôfrega e partiu
Sem adeus e sem demora
Minh'alma, de mim fugiu
Pra bem longe, foi embora...
Nem mesmo sei por que partiu
Por onde voa essa ave canora?
Seu canto, para outros céus seguiu
Levando a alegria de outrora
Deixando meu coração vazio
Como a insone espera da aurora
Folha morta em caudaloso rio
Rio de lágrimas, que meu pranto chora...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Porque (Carlos Drummond de Andrade)

Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento

O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios

Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,

Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer?

EM MIM, MINAS GERAIS

Daqui do alto vejo tuas casas, tuas terras, tuas serras
Esse verde brasileiro: viçoso e vivaz.
Nesse belo horizonte me pareces mesmo distante,
Como um sonho bom que não volta mais.
Adeus, doce menina. Tua imagem em minha retina me punge de saudade,
Me entorpece e me apraz.
Minhas lágrimas nordestinas molham minhas lembranças de Minas...
Em minha nostalgia te aninhais.
Em minha memória afetiva, tuas histórias, tuas esquinas,
Teu povo “ouro de mina” de encantos memoriais.
No meu peito, a despedida dói mais que a dor da partida:
Dói a dor dos loucos sem paz.
Adeus, minha amada, minha querida. Já és parte da minha vida.
Não te esquecerei jamais!
Minha alma, de tristeza aturdida, grita teu nome nos aeroportos da vida,
Enquanto chora seus tristes ais.
Nessa endecha tão sentida, canta minha alma arrefecida:
Não importa que destino siga, porquanto em meu peito houver vida,
Ei de amar-te, Minas Gerais!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Saudades de ti, Mato Grosso

Se algum dia, Mato Grosso
Te lembrares de mim,
Ainda que por um instante breve
E sentires uma serena brisa
Tocar teu rosto de leve
Talvez seja minha saudade
Dizendo-te um solene
Até breve!

Salam alecum, o dábò, arigato, shalom!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ao Fenecer da Tarde

As lágrimas que rolam do meu rosto,
Não tem mais o calor da juventude
Minhas mãos já não são capazes de sustentar o peso da minha cabeça
As flores primaveris, florindo o jardim de cor, perfume e beleza
A mim já não me encantam como outrora...
Meus olhos não marejam mais ao contemplar
O espetáculo do astro fulgurante
Anunciando o novo dia
Minhas pernas, tão pesadas e lentas,
Recusam-se a carregar este corpo prostrado
Ante a fugacidade da vida
O sorriso que iluminara meu rosto,
Tornou-se hoje melancólico e infeliz
Esses braços meus já não são capazes de reter o calor de outro corpo:
Já não podem abraçar.
Estou velha, meu amor,
E cansada...

Do findo coração

Amor em pedaços...
Amor pra se guardar na gaveta do esquecimento.
Retalhos de sentimento...
Vestígios de alguma coisa que já não existe
Palavras que não foram ditas
Abraço contido
Braços vazios de calor...
Fotografias de rostos e paisagens gris
Números de telefone, discos, cartões-postais, coração:
Tudo espalhado em um chão frio de um quarto escuro
Tristeza é pesadelo que não acaba, sabe?
Agora, tenho que viajar
para bem longe
Longe de mim...

Meus Sobrinhos

Vejo você...
Pés descalços, pisando a areia da praia
E as ondas do mar azul, brincando com tua alegria,
Se agitando, no vai e vem da maré...
Sinto que felicidade é ver você
Correndo, sofregamente e pueril,
Sob o brilho de um sol dourado
Como quem quer ser desesperadamente feliz
O vento que sopra teus cabelos
Também quer brincar em teus sonhos de criança.
Quando você sorri, tudo se ilumina
E eu entendo que viver é bom!
Cores de tons impossíveis, que não sei explicar
Inundam o meu olhar e me enternecem
Você é tão pequenininho
Mas tem um coração tão grande!
Tão cheio de nobreza e carinho!
Estar com você é paz interior,
É esperança e fé na vida.

Com as mãos

Mãos que fazem a arte, o pão...
Que lavam as tristezas
Que limpam o suor que escorre do rosto cansado...
Pela dor do sol da lida
As mãos que labutam
São as mesmas que batucam pra esquecer a dor
Mãos que tocam o amor
Mãos que afagam e
Que perdoam
Que banham de amar
Que plantam a flor
Mãos marcadas pelo tempo, pela vida.

Criança triste

Um soluço,
Um sussurro embargado,
Um choro contido...
E esse pranto, meu Deus, por que razão?
Tristeza de criança é tão sentida,
é doída, não se sabe porque...

Ah, poesia!

Ah, poesia que me invade a vida vazia!
Me entorpece e me vicia
Me atormenta e me sacia
Elixir inebriante de saudade e nostalgia
Ah, poesia! Sem ti, o que faria?
Há tanta angústia, tanto cinismo,
Tanta dor, tanta agonia!
Essa loucura pouco a pouco
A mim me consumiria
E de nada valeria meu cansaço,
Minha correria
Sem ti, como viveria?
Ah, poesia, sem ti eu não seria!

Ode aos amigos

Como é bom ter um amigo!
Alguém em quem confiar.
Alguém a quem se diz muito,
Tendo pouco a explicar.

Como é bom ter um amigo!
Um amigo de verdade.
Ajuda nas horas frias
Quando a tristeza nos invade

Como é bom ter um amigo!
Um grande amigo já é suficiente!
Até porque, há tantos terríveis perigos
Travestidos de “boa gente”!

Como é bom ter um amigo!
Amigo é como um irmão...
Só que irmão é imposto pelo sangue,
Já amigo, é eleito pelo coração!

Mar de Poesia

Talvez seja, a poesia
um barquinho, singrando mar à dentro
Navegando, mareando
no mar bravio do sentimento
Compelido fortemente
pelo vento, pelo tempo
Rumando livre, sem destino,
nas ondas do pensamento

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mel de Clarice

Clara lua
Espelho de estrela
Fagulha, centelha de luz e de cor
Clarice é doçura de flor de beijo
Mel de abelha
Melando de encanto
A face do amor

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Para Ianê

Ianê, Ianê
Por onde andará você?
Corro louco pelas ruas
procurando por você

Ianê, Ianê
Em que paisagem foste se esconder?
Ou estás no mar,
no sol do entardecer?

Ianê, Ianê
Estou cansado de sofrer...
cinema, poema...
tudo me lembra você!

Ianê, Ianê
Onde está você?
Lágrimas escorrem do meu rosto
e você, cadê?

Ianê, Ianê
Angustia apressa o meu fenecer...
Grito repetidas vezes o teu nome
Mas não ouço ninguém responder

Rondônia na memória

Da janela, vejo um luar que me parece dizer adeus.
Sinto uma tristeza…
É melancólica essa fria noite que me invade as solitárias horas.
Meu peito se enche de pranto, com a força de um caudaloso rio que se perde no horizonte…
Meu coração é um barco, partindo de um porto velho para algum lugar distante…
A alma chora a despedida iminente. Meu Deus, que farei nessa hora?
Tua lembrança, doce Rondônia, me sangra sem piedade. Tudo é silêncio em mim.
Na memória, para sempre, essa minha imensa saudade da gente, da cor, do cheiro do amor rondando Rondônia…

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Palhaço Que Se Apaixonou Por Uma Estrela

Narrador (circunspeto como quem anuncia o fim de um sonho):
Era uma vez um palhaço, um bobo de meia tigela,
Que tolamente se apaixonou por uma estrela
Que numa fria noite, fitara de sua janela.

Palhaço (com um ar melancólico e triste, falando desde a janela do seu quarto de ilusões):
- Oh, estrela que brilha tão fulgurante e bela! Por favor, dá-me tua atenção um instante.
Talvez finde esta querela.
Sofro dia-a-dia, esperando a noite distante.
Dolorosa é minha espera... Morro de amor por ti, desde aquela noite fria que te fitei da minha
janela.

Estrela (fausta e gloriosa, fala com o desdém e ironia mordaz):
- Meu pobre palhaço triste! Que pensas estar fazendo?
Como podes dizer que por mim, de amor estás morrendo?
Sou dos domínios de cima, pertenço à corte celestial
e você - pierrô infeliz, que triste sina! - és tão somente um simples mortal.

Palhaço:
- Bem sei alta estrela, que valsas no domínio cósmico.
Mas não acredito, radiante Dona, ser o amor que sinto algo ilógico.

Estrela:
- Palhaço petulante! Tua paixão lhe está roubando a razão, o comedimento.
Como ousas se apaixonar por esta filha do firmamento?

Palhaço:
- Perdão, princesa da noite, pela ousadia deste insano.
Mas não posso guardar em meu peito esse poderoso sentimento humano.

Estrela:
- Lamento, homem mortal, mas minha resposta final é não.
Pertenço à alta noite, habito a expansão.
Não podemos sequer nos tocar: meu calor te consumiria.
Apesar dos elementos que nos unem, entre mim e ti, não há harmonia.
Os astros imploram por meu lume,
brinco com o sol da manhã, as nuvens de mim sentem ciúme.
Vago errante pelo universo, não tenho porto de chegada.
Por essas e outras razões, meu pobre palhaço, não posso ser sua amada.

Palhaço:
- Deus meu, que destino atroz para um palhaço! Mas que grande ironia!
Eu, que sempre converto tristeza doída em riso e alegria,
fui vitimado por um sentimento que nunca dantes imaginaria.
Ah! Doravante meu sorriso será arrefecido, minha lágrima será fria.
Por isso o palhaço se maquia: para esconder a dor, travestir a agonia de viver a solidão de
uma vida vazia.

Narrador:
E assim, respeitável público, fecham-se as cortinas e a luz se revela.
Termina a fantasia.Termina-se essa estória patética, melancólica e bela.
A história de um palhaço, um bobo de meia tigela,
Que ousou se apaixonar por uma estrela que numa fria noite, fitara de sua janela.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma flor para Cecília

Se Cecília fosse uma flor
que flor seria Cecília?
flor de amar, flor do mar, flor de maravilha?

Se Cecília fosse um flor
onde floriria Cecília?
Numa colina? Numa montanha? Ou numa perdida ilha?

Se Cecília fosse uma flor
que cor teria Cecília?
Teria cor de luz, cor de paz,
Cor de poesia idília!

Dores da Saudade

A casa está vazia...
Estou sentindo tanto a sua falta!
Sinto falta da sua companhia, das nossas conversas existenciais,
Nossos lanches na madrugada:
- Você tá comendo o quê aí, filho? Tá bom?
Ah, meu Deus! Como eu sinto falta de tudo isso!
Falta das suas mãos a me afagar
Falta do teu abraço, do teu riso solto,
Das tuas bênçãos, dos teus conselhos...
Estou me sentindo tão só, pai!
Tão desprotegido... Tão triste!
Sua ausência é um vento gélido
Que sopra em meu coração
A casa está tão vazia!
Vazia de você, pai...
Como dói essa saudade de você!

05:55h a.m.

Cai sobre mim a gélida madrugada
A noite já se foi...
Deixei de dar telefonemas
Esqueci de jantar
Fiquei vendo filme de amor bandido até tarde da noite
Tinha que ler o jornal. Esqueci.
Agora, o cantarolar dos pássaros matinais
Que anunciam o sonolento alvorecer
E o som de passos apressados:
Os que correm para alcançar o tempo perdido ontem.

Luísa

Vejo Luísa
Assim, de bermuda e camisa...
Deus do céu, que coisa mais linda!
Moleca, descalça,
Pisando menina a areia branca da praia...
Luísa é tão livre!
Livre e linda como o sol explodindo em luz
Ao beijar as águas do mar...
Ah, esse sol verdadeiro!
O sol e a brisa que acaricia os cabelos de Luísa...
Me invade uma alegria de criança
Ao ver essa imagem que se eterniza em meu olhar
Sinto a brisa do amar tocar meu rosto
Ou seriam as mãos de Luísa?

O AVAL DA CARNE

Uma grande rua vazia
Silêncio de manhã de domingo... Acabou.
Tudo é miséria
Tudo é dor
Mas, pouco importa!
No carnaval ninguém é triste: é folião!
Pierrôs e Colombinas, fantasiando a realidade
com o eclesiástico aval da carne: vale carnal...
Passaporte para a momesca euforia
Linda, grandiosa festa e efêmera,
como as carnavalescas juras de amor eterno:
- Me beija!
- Me liga!
- Qualquer dia desses a gente...
Carnaval é ingênua e fugaz alegria de bêbado beijoqueiro
Orgasmo etílico
Patética alegria...
Triste alegria...
Desesperada alegria...
O carnaval é incêndio cênico de cores e luzes doidejantes,
Fogo de angústia e êxtase
Que termina cinza, na quarta-feira.

Sexta, 00:28h

Era melancolia de uma chuvosa manhã cinza
Era vazio de fim de festa
Era saudade de alguém distante
Era solidão e tristeza de domingo acabando
Era medo da velhice solitária
Era alguém falando ao telefone:
notícia de morte abreviando a juventude
ou essa dor de cabeça que me atormenta?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

QUEM SOU EU?

"Fujo ao cego lisonjeiro, que, qual ramo de salgueiro, maleável, sem firmeza vive à lei da natureza. Que, conforme sopra o vento, dá mil voltas, num momento. O que sou, e como penso, aqui vai com todo o senso, posto que já veja irados muitos lorpas enfurnados vomitando maldições, contra as minhas reflexões. Eu bem sei que sou qual grilo, de maçante e mau estilo; e que os homens poderosos desta arenga receosos hão de chamar-me tarelo, bode, negro, mongibelo; porém eu que não me abalo. Vou tangendo o meu badalo com repique impertinente, Pondo a trote muita gente(...)"

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Ada, uma canção

Irmã, amiga
querida Ada
Eis aqui um singelo poeminha
a lembrar-te o quanto és amada

Menina grande
mulher pequenina
Fé menina, Ada

Um olhar que enternece
Um sorriso que afaga

Amada, querida
Ao mesmo tempo séria e engraçada

Inefável maravilha!

Numa hora inteligível
numa outra, complicada!

Que confusão divertida é essa minha amiga Ada!

Ada chora, é sensível...
Mas também é gargalhada!

Forte, generosa, poderosa.
Na verdade, sempre amparada
Quando está indignada, quem pode calar Ada?!

Doce, amável, sincera
Flor singela e delicada
Que empresta perfume e cor
À domingueira manhã ensolarada

Para sempre seja, amiga querida,
Linda e densa como a vida.
Que o Pai Jeová lhe bendiga, irmã amada!
Que faça tua fulgurante luz, infinda!
Seja eternamente abençoada, Ada.

A Drummond, Itabira

O sol que brilha em Itabira não se vê em outo lugar
É um sol mineiro, prazenteiro
que diz "bom dia!" como quem quer abraçar
Peço a Deus, em prece solene
que um dia possa voltar a Minas, a Itabira,
a boa gente que vive lá:
Chico Brito, Dona Rita, Nhá Francisca, Seu Osmar...
Meus entes queridos, vizinhos, amigos:
album afetivo, familiar.
Tantas histórias, casas antigas... Meu pensamento a redourar
As vezes me dói uma tristeza...
Que faz o coração soluçar!
Uma dor que dói verdadeira, com uma melancolia mineira
que não tem como explicar
Quero voltar a Minas! A Itabira, quero voltar
Minhas memórias cruzam as esquinas
brincam com suas brejeiras meninas
vagando pelas ruas do meu olhar
Hei de rever o sol da minha terra: beleza igual não há!
Quero voltar a ser criança, quero dormir e sonhar
com as quitandas de itabira:
Doce saudade desse meu lugar.

O Paraguaçu No Pescador

O sol inunda meu rosto
já cansado de tanta labuta...
em meu velho barco, sigo a mesma sina:
jogo minha rede, buscando o pão de cada dia que vem das águas grandes
Sigo pelo grande rio que banha minha alma de pescador
oro a Nosso Senhor - em silêncio, para não espantar o peixe
hoje já nem tem tanto peixe...
nunca mais vi pescaria farta!
no tempo das enchentes, ainda se via muito cramataí, piau, jundiá,
bagre, acary... Ih, era de dar gosto!
Hoje os peixes rarearam...
o Paraguaçu já não é mais o mesmo...
o vapor que navegava no mar, hoje só navega nas minhas velhas lembranças...
quando em vez, dá uma tristeza, tão doída...
daquelas que dão um nó na garganta e o sujeito nem consegue falar...
Aí, dos olhos marejados da gente, escorre uma lágrima doce e salgada, como as águas do Paraguaçu.
Saudades daquele tempo!
O tempo passou com a ligeireza das águas e meus olhos não viram!
As águas do tempo...
As águas do tempo levaram minha mocidade mas não levaram minha esperança!
Sem esperança, a gente é barco naufragando nas profundas águas da tristeza.

Areia, no meu pensamento

Quando eu tiver que ir embora
e o adeus tiver seu momento,
que farei, nessa hora,
se meu peito encher-se de lamento?

Quando não mais pensares em mim,
Que seja eu apenas lembrança e esquecimento
Saiba que, até que venha o fim,
Guardarei tua imagem aqui dentro

Quando eu tiver que ir embora
A saudade de ti me virá como um vento
A Areia da Paraíba me invadirá a memória
Terei, enquanto viver, Areia no meu pensamento.

De tarde

Quem me dera pra sempre esse pôr-do-sol!
Quem me dera fosse essa tarde infinda
como tua imagem na memória da minha retina
Tão linda...
Tenho medo da noite que te rouba de meus braços
e me deixa assim, tão só...
Um cheiro, uma música, um poema...
Ah! Quem me dera esse pôr-do-sol fosse eterno!

Chorinho da Madrugada

Seguindo pela madrugada,
rondo na escura noite
à procura do brilho do amor
nos olhos da minha amada:
em seu pensamento, terei morada?
vadio á luz do luar.
desmaia sobre mim a alvorada.
apaixonado, sonho acordado...
as vezes me vejo só,
caminhando noite à dentro
com ela no pensamento, seguindo pela madrugada.

Menina Nanda

Nanda gira o sol na varanda
Brinca, canta, roda ciranda no jardim da palavração.
Nanda é linda, é cheia de graça. Por onde passa semeia canção.
Brinca, canta, roda ciranda,
caminha, pára e gargalha bem no meio do Salão.
Nanda é bonequina engraçada:
desconcentra a multidão
Brinca, canta, roda ciranda,
encantando a criação.
Nanda é cunhantã morena,
estrela brônzea em expansão.
Brinca, canta, roda ciranda
Transforma poesia em emoção
Nanda é pequena, ainda não sabe
mas, quando vai embora
deixa um vazio de saudade e solidão...
Ah! Mas quando volta, traz de volta a cor e a luz da imensidão
Brinca, canta, roda ciranda,
qual benfazeja brisa, na ensolarada face do verão
Nanda menina
Menina Nanda: divertida confusão
Mel moreno da mais linda flor
que perfuma a vida de amor em sagração
Nanda é bem-aventurada.
Caliandra encantada, orvalhada em efusão
Brinca, canta, roda ciranda na varanada do meu coração.

Só A Alma Brasileira Sabe O Que É Saudade

Saudade é um trem correndo fugidio, para longe,
cada vez mais distante da estação em que um dia desembarcamos.
É um punhal de prata que dilascera e sangra nosso peito: dor fria e melancólica...
Saudade é o vento, levando de assalto cartas repletas de sentimentos,
para um céu qualquer, de uma cidade distante...
É a certeza nos olhos de que lágrimas de tristeza escorrerão, brilhantes e cálidas, no nosso rosto,
quando nostálgicos cheiros fragrantes nos invadem a memória.
Saudade é essa força furiosa e irreverente
que muda nossas convicções e certezas com o pragmatismo do balanço das horas.
É morrer um pouco, sofrida e docemente...
Saudade é uma lácia paroxítona sonora,
cunhada no âmago da alma brasileira,
cuja ressonância, ecoa nos corações espalhados pelos quatro cantos do mundo
onde houver alguém que sinta o que é amar, em bom português.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Doralice, uma canção.

Para a querida Doralice, a alegria de Cuiabá-MT

Doralice, sorriso encantado
que brilha como um sol dourado,
rindo celeste no céu de Cuiabá.

E essa luz que principia
Em todo lugar que Doralice está?
Vem das águas dos rios? Da floresta? Da serra?
Do luar?

Só sei que Doralice encanta tudo e a todos
Com um encanto que vem do fundo da alma
e resplandece tudo o que há.

Doralice é poesia, é cheiro verde de alegria,
É festa de cantoria,
É cantiga de ninar.

Saudades de Cabaceiras do Paraguaçu

Dizei-me vós, ó Poeta da Liberdade!
Dizei-me vós, o que fazer
Com essa dor, com essa saudade
Que entristece meu viver.

Quisera Deus me conceder
Saber fazer poema ou canção
Talvez findasse esse sofrer
Que me invade o coração

Eis que sou um pobre mortal
Um homem mediano
Não tenho o dom divinal
De poetizar o sentimento humano

Que saudade dos amigos que fiz:
Flores juvenis que perfumam minha memória
Grandes descobertas de uma Expedição feliz,
Patrimônio da minha vida, Patrimônio da minha história.

Em Cabaceiras do Paraguaçu,
Onde nasceu o Poeta Condoreiro
Há um barco que navega azul
Sob um vigoroso sol que brilha forte, verdadeiro.

Nas grandes águas de um caudaloso rio
Navega o barco do meu pensamento
E lágrimas num rosto frio
Escapam-me a todo o momento

Os abraços, os sorrisos, as andanças...
Quantas alegrias, nessa cidade vivi!
Vi brotar sementes de esperança
Nos corações de criança dos que lá conheci

Amigos de Cabaceiras da poesia,
Minhas singelas palavras querem te dizer
Que até findar a luz do meu dia,
Essa breve ventania que é o viver,

Ah, Cabaceiras! Guardar-te-ei na memória da saudade
Enquanto a chama da vida em meu peito arder
Jamais esquecerei essa cidade
Cabaceiras do Paraguaçu: hei de amar-te até morrer.

ANDAR AÍ, EM IGATU

Garimpando a saudade encontro lembranças diamantinas
Lapidadas pelo tempo, pelas pessoas, pela natureza.
No alto da serra, há uma loca onde mora o desejo de voltar a Andaraí.
Andar pelas ruas de Igatu: caminhos de pedras e sentimento...
Me banhar na água boa que purifica o ser e conduz a lugares idílios,
Onde pedras memoriais nos contam histórias de homens e mulheres
Que enfrentaram fome, sede, feras perigosas como o tempo,
Como o sol que arde, escaldante, no céu da chapada.
Caminhar por entre ruínas e sonhos...
Andar nas pedras, subir a serra,
Ir andar... Andar aí!
Entrar na toca do morcego
Exorcizar meus medos e segredos
No alto da serra, ouve-se um som de anjos celebrando a vida
Do céu azul-poesia vieram as pedras
que adormecem meninas, na paisagem de Andaraí.

Amar em silêncio

Te amo em segredo
Te amo em silêncio, solenemente
- Psiu!
Meu amor fala baixo: tem medo de te acordar
Meu amor é um sonho ingênuo
Como o sorriso de criança
que brinca no parque de areia
num domingo de sol, de manhã.

Ausência

Lua se vai...
Um samba melancólico e doce perfuma as ruas vazias
Solidão...
O orvalho que molha meu rosto, são as lágrimas da noite, querendo ficar um pouco mais...
A noite é brincante e pueril
O tempo é um sopro. Palavra fugaz,
inconstante, como tua presença em meu caminho.
No fenecer da noite, a única certeza é tua imagem na memória da minha retina
e essa saudade menina, que se recusa a dizer boa noite
e dormir.

Ondina da Saudade

Ondas pequeninas
que te levam e te trazem
na cadência oceânica...

De onde ela vai?
Para onde ela vem?

Ondas meninas... ondinas
Salgadas e mornas são as águas do mar de Ondina.
São as lágrimas de tristeza
que não me deixam te esquecer...
Na praia de Ondina, mareja a saudade
Meus pensamentos são as ondas
que me molham de você.