segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Palhaço Que Se Apaixonou Por Uma Estrela

Narrador (circunspeto como quem anuncia o fim de um sonho):
Era uma vez um palhaço, um bobo de meia tigela,
Que tolamente se apaixonou por uma estrela
Que numa fria noite, fitara de sua janela.

Palhaço (com um ar melancólico e triste, falando desde a janela do seu quarto de ilusões):
- Oh, estrela que brilha tão fulgurante e bela! Por favor, dá-me tua atenção um instante.
Talvez finde esta querela.
Sofro dia-a-dia, esperando a noite distante.
Dolorosa é minha espera... Morro de amor por ti, desde aquela noite fria que te fitei da minha
janela.

Estrela (fausta e gloriosa, fala com o desdém e ironia mordaz):
- Meu pobre palhaço triste! Que pensas estar fazendo?
Como podes dizer que por mim, de amor estás morrendo?
Sou dos domínios de cima, pertenço à corte celestial
e você - pierrô infeliz, que triste sina! - és tão somente um simples mortal.

Palhaço:
- Bem sei alta estrela, que valsas no domínio cósmico.
Mas não acredito, radiante Dona, ser o amor que sinto algo ilógico.

Estrela:
- Palhaço petulante! Tua paixão lhe está roubando a razão, o comedimento.
Como ousas se apaixonar por esta filha do firmamento?

Palhaço:
- Perdão, princesa da noite, pela ousadia deste insano.
Mas não posso guardar em meu peito esse poderoso sentimento humano.

Estrela:
- Lamento, homem mortal, mas minha resposta final é não.
Pertenço à alta noite, habito a expansão.
Não podemos sequer nos tocar: meu calor te consumiria.
Apesar dos elementos que nos unem, entre mim e ti, não há harmonia.
Os astros imploram por meu lume,
brinco com o sol da manhã, as nuvens de mim sentem ciúme.
Vago errante pelo universo, não tenho porto de chegada.
Por essas e outras razões, meu pobre palhaço, não posso ser sua amada.

Palhaço:
- Deus meu, que destino atroz para um palhaço! Mas que grande ironia!
Eu, que sempre converto tristeza doída em riso e alegria,
fui vitimado por um sentimento que nunca dantes imaginaria.
Ah! Doravante meu sorriso será arrefecido, minha lágrima será fria.
Por isso o palhaço se maquia: para esconder a dor, travestir a agonia de viver a solidão de
uma vida vazia.

Narrador:
E assim, respeitável público, fecham-se as cortinas e a luz se revela.
Termina a fantasia.Termina-se essa estória patética, melancólica e bela.
A história de um palhaço, um bobo de meia tigela,
Que ousou se apaixonar por uma estrela que numa fria noite, fitara de sua janela.

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