quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Choro de nuvens


Nublada manhã de domingo...
As gotas de chuva que caem,
Invadem a janela do meu quarto
Respigam o chão
Ouço o rádio e o barulho da chuva
Que cai indiferente, lá fora...
Hoje não tem praia
Não tem a alegria de domingo de sol
Hoje só tem rádio e barulho da chuva...
Mais uma cinza manhã de domingo!
E as chorosas gotas de chuva, molhando o chão do meu quarto...
Seriam as gotas de chuva lágrimas de tristeza?
Chove dentro em mim...

Entre o Adeus e A Madrugada

Nessa noite enluarada
Sigo errante pela estrada
Entre o adeus e a madrugada
Ai de mim, Senhor meu Deus!
Em que coração terei morada
Se não tenho mais a minha amada?
Em melancólica toada
De nostalgia impregnada
Minh'alma dilacerada
Bandoleira, vaga incerta e desolada
Triste essa minha sina..., amaldiçoada!
É solitária e fria essa caminhada
Entre o adeus e a madrugada...

São João del-Rei

Meu coração baiano, caminha incerto pelas esquinas de São João del-Rei
Seus casarios, sua gente, suas cores, seus sabores...
Tudo é enlevação e novidade em meu coração
A madrugada fria me invade os sentidos, me confunde os pensamentos...
Minha saudade de casa, dos amigos que ficaram na estação primeira do Brasil
Se confunde com a tristeza pela iminência da despedida
As horas fugidias me avisam que sou passageiro...
A certeza de que terei de partir
Neblina de manhã e lágrimas
O coração partindo
O coração partido
Sinos dobram, acordando a hora da despedida
Em minha memória, São João del-Rei
Uma mineira cidade
Uma mineira saudade.

Vivências

“Saí daqui diferente de como entrei
Saí com vontades, perguntas e respostas.
Saí para voltar
Voltar para mim
Para meu passado
Que não está em um lugar guardado
Ou num arquivo organizado
Mas está em minha memória
Em meus poros, em meu próprio tempo
Saí daqui diferente de como entrei
Entrei para buscar e acabei deixando...
Entrei para deixar e acabei levando...
Deixei minhas experiências
E levei as suas
Deixei minhas perguntas
E levei outras respostas
Saí daqui como quem sai de um perfumista
Com muitos aromas, com muitas essências...
Saí para voltar para os meus e dizer que é possível
É possível acreditar
É possível buscar
É possível tocar
É possível conservar, preservar, criar e recriar
Como numa ciranda, a vida dá muitas voltas
E na dança e nos movimentos vamos nos refazendo
Vamos nos transformando, vamos nos reencontrando
E marcando o compasso de nossa história
Dos nossos tempos
Dos nossos momentos
Vamos, de mãos juntas
Nesta brincadeira de roda
Contando os nossos causos
Os nossos cânticos
As nossas letras
E como numa grande escultura
Vamos lapidando
Polindo, detalhando a nossa marca chamada cultura“.

Plano de Ação

"Existe um museu dentro de cada indivíduo...
Sou um acervo temporário que deixa rastros
Rastros em fotografias
Rastros em poesias
Rastros na biologia: nos filhos crescidos, nas árvores plantadas
nas casas construídas, nos amigos compartilhados...
Rastros à espera da próxima onda
que os diluirão nas areias da vida"

Isa "Carioca", julho 2008.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quando tudo acabou?

Em que espelho se escondia,
Na palidez do dia-a-dia,
Essa melancólica hora fria?

Tudo acabando e eu não percebia
Que o amor se transformaria
Em solidão de domingo, em madrugada fria.

Em meu coração morava a alegria
Mas ela foi embora: a casa está vazia.
Solitário, agora chora quem antes se ria...

Uma gélida lágrima no meu rosto escorria
Endechas, lamúrias, em lugar de cantoria.
Tornara-se cinza a minha fantasia

Sofre, minha alma, um sofrer de desvalia.
Ferida de morte, em desatada sangria.
Sangra, solitária, minha triste poesia.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ninguém sabe. Ninguém viu!

beijou-me sôfrega e partiu
Sem adeus e sem demora
Minh'alma, de mim fugiu
Pra bem longe, foi embora...
Nem mesmo sei por que partiu
Por onde voa essa ave canora?
Seu canto, para outros céus seguiu
Levando a alegria de outrora
Deixando meu coração vazio
Como a insone espera da aurora
Folha morta em caudaloso rio
Rio de lágrimas, que meu pranto chora...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Porque (Carlos Drummond de Andrade)

Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento

O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios

Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,

Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer?

EM MIM, MINAS GERAIS

Daqui do alto vejo tuas casas, tuas terras, tuas serras
Esse verde brasileiro: viçoso e vivaz.
Nesse belo horizonte me pareces mesmo distante,
Como um sonho bom que não volta mais.
Adeus, doce menina. Tua imagem em minha retina me punge de saudade,
Me entorpece e me apraz.
Minhas lágrimas nordestinas molham minhas lembranças de Minas...
Em minha nostalgia te aninhais.
Em minha memória afetiva, tuas histórias, tuas esquinas,
Teu povo “ouro de mina” de encantos memoriais.
No meu peito, a despedida dói mais que a dor da partida:
Dói a dor dos loucos sem paz.
Adeus, minha amada, minha querida. Já és parte da minha vida.
Não te esquecerei jamais!
Minha alma, de tristeza aturdida, grita teu nome nos aeroportos da vida,
Enquanto chora seus tristes ais.
Nessa endecha tão sentida, canta minha alma arrefecida:
Não importa que destino siga, porquanto em meu peito houver vida,
Ei de amar-te, Minas Gerais!