quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Atravessamentos

Acordar e sentir o sol amanhecendo o dia dentro de você

Travesseiros macios, lençóis quentes, 

confusão na cama e em minha ordem interior

e o tempo se vai lento, assim, cheio de preguiça e de manha...

De manhã,

Tudo desorganizado...

Bagunçado, perturbados pelos nossos significados em você, em mim

Em todos os sentidos

Sequiosos em voltar a viver a experiência do (re)encontro conosco em nós

Nós dois, um laço,

Somamos assim:

um mais um são quarto

Prosa e poesia entrelaçadas na trama do desejo  

No silêncio cúmplice dos corpos trêmulos, suados, em êxtase febril

coisas são ditas para serem sentidas, não entendidas

Somos afins

ÓDIO OU TRISTEZA?

Fico pensando como deve ser viver sem medo

de ser assassinado pelo Estado racista.

Fico pensando como deve ser viver sem ser avaliado

pela textura do cabelo, pela cor da gengiva...

Fico pensando como deve ser a vida sem ter o caráter, a competência, 

a honestidade medida a partir do tom da pele, pelo formato do nariz...

Fico pensando como deve ser viver sem medo 

de ser confundido com um criminoso 

Fico pensando como deve ser viver...

Fico pensando...

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Banana na fruteira ou a efemeridade do tempo em desespero

Tudo apodrece.
O corpo
As horas
A flor do ipê
As certezas 
A espera de alguém
A melancólica banana na fruteira
O domingo na praia
A dama da noite que plantei e não vingou
O desejo
A vida cheia de viço

Nem sempre fétido
Nem sempre nítido
Nem sempre óbvio
Tudo, tudo já morreu
ou apodrece



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

FLOR EM FULGOR

O encanto do teu corpo nu

performando a luz do luar.

Poesia nua em flor

enebriando o meu pensamento.

teu gesto é verso 

enigma sedutor

Mistério que o meu desejo tenta, 

em vão, decifrar

7 letras que não se repetem

em chamas, tudo aquilo que não posso traduzir em palavras

Em minha memória flamante, 

ardo o fogo do teu nome 

em mim






segunda-feira, 28 de outubro de 2024

OCASO SOLAR E O DELÍRIO EM TARDE SER

Deus?
Os mistérios do mundo?
O tempo?

Me pergunto o que perturba o meu sentipensamento e me deixa assim, parvo, em suspensão sinestésica.

De algum lugar que não sei quem sou ou sinto, me vem a resposta, como um vento de raio que a tudo devassa e leva de arrasto:

o que me confunde as colunas do espírito e me rouba a paz é esse teu olhar fugaz, exitante, que me olha como quem vê medo e desejo dançantes, pactuados em um acordo tácito...

No entardecer dos sentidos, valsando em compasso, numa cumplicidade silente,
o instante infinito do espanto de vidas que se reconhecem no encontro.





"Perto de você me calo. Tudo penso e nada falo. Tenho medo de chorar..." (Último Desejo. Noel Rosa)

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Quem dera...

Minhas mãos percorrem o teu corpo

Ora foge de mim, ora me deseja 

Como um ébrio andando por uma rua desconhecida, 

perdido, a vagar pela noite, procurando se encontrar

Eu te encontro, me encanto e te beijo 

É o meu beijo querendo que você me veja

O tempo é fugaz e se esvai pouco a pouco

Como areia fina na ampulheta das horas de agonia 

Você precisa ir e eu querendo ficar mais com você

Quem dera... Ficar com você, 

Na cama, em lençol, te vejo dormir, tão frágil, tão lindo! 

O sol da manhã, na janela: em nós dois, sós

Você com suas músicas, seu olhar de menino que me atinge em cheio:

arqueiro e seu dardo certeiro dilacerando o meu coração

Ontem, você chegou e trouxe a madrugada em seus pés 

hoje você vai e me deixa o vazio da noite sem o brilho da tua presença

Como o globo espelhado na pista de dança onde fico sozinho

Sem par, sem paz, sem você.

Queria que o tempo parasse

Quem dera...

Queria que você soubesse o quanto te desejo

Meu beijo beija o teu beijo.

Teu beijo é o começo de tudo que se torna poesia e beleza

Quem dera tua presença não fosse uma breve e efêmera surpresa.

Quem dera...

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

NEGRA COR

A minha cor não passa despercebida pelo olhar branco.

Meus passos tem a minha cor e são vigiados, no banco, na farmácia, no restaurante

Suspeição ambulante, tensão constante

Na rua, no bar, na loja de inconveniências o branco se incomoda com a minha cor

Medo, raiva, desprezo, dó, desejo, ódio...

A minha cor confunde os sentidos e os sentires das pessoas brancas

Que me cobram satisfações: de onde? Para que? Para onde? Quem? Você? Como assim?

Minha cor é malvista, mal vinda, malquista

Para pessoas brancas, a minha cor, mesmo vestida de humanidade, está despida, descrida, destituída de dignidade

O Estado é embranquecido e cobra da minha cor: documentos, satisfações, reverência ao seu poder soberano que julga, sentencia e pune: morte ou viver com medo, qual a diferença?

Quem não deve não teme, dizem os brancos. E eu digo: ainda que a dívida seja branca, quem sempre é cobrada é a minha cor.

Minha cor também marca a dor que o prazer branco me causa

Ser branco é não ter cor, é não temer, mesmo devendo.

Todos os dias tentam apagar a minha cor com a borracha branca da colonialidade.

Por isso que, todos os dias, minha cor precisa ser reforçada pela tinta de memória ancestral. 

Negra cor que colore de vida a minha mente, a minha boca e o meu coração.

FIM DE FESTA OU A NOITE ACABOU

 

A luz do salão de festas se apagou dentro de mim

Tudo agora é silêncio e vazio

Não há mais dançantes em seus sorridentes movimentos filauciosos

Risos, músicas, luzes ornamentando o ambiente de alegria e êxtase

Tudo agora é silêncio e solidão

As pessoas se foram e com elas os motivos de celebrar a vida

Automóveis partem do estacionamento, passos se vão embora, para longe

Tudo agora é silêncio e melancolia

Os brilhos da noite, os perfumes que desfilavam entre os convivas

As mentiras, os desejos, as promessas, os segredos, as ostentações

Tudo agora é silêncio e só.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

La calle más grande es el corazón.

Los recuerdos mediterrâneos

Mojan y lavan de añoranza a mis pies al atardecer.

Calles, barrios, caminé mucho por un largo camino

A través de la historia.

Los colores andaluces me llenan el alma: ¿de dónde vienen?

Vinos, sabores, colores,

caminos diseñados por personas y culturas

Que hacen de España un lugar hecho de lugares

reales como los colores del oro y la sangre 

que ondean en su bandera.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O motorista de aplicativo e o existencialismo

- Boa tarde, senhor
Qual seria ou seu destino?
(eu, silêncio profundo, encerrando o sentimento do mundo em mim)
- Só sei que estou aqui, meu senhor,
No ponto de partida,
Tentando não chegar atrasado
No meu ávido encontro
com a vida


Traduz ir-se

Metade é arte
Outra metade 
É a meta de ser 
Parte inteira
À parte?
De tudo, quase...
Aparte?
De nada, todo.
Metade é arte
Outra metade
Menta,
Arde

Há Sóis

Sonhando com o teu incandescente corpo 

Queimando o vazio na cama

Trazendo calor

Quando a saudade arder em cio

Beber o suor com que me enebrio

Quero-te brincante entre lençóis

Menino vadio

Fazendo amor em nós

Dois sóis


XEQUE-MATE!

Depois de todos os desencontros - desencantos tantos! 

- você achou melhor nos isolarmos e pronto: 

cada um para o seu canto, sem acalanto.

E o pássaro-tempo, que voa mais depressa que o pensamento, em lamento, nos vê do alto: 

nós, sem voz, cada vez mais distantes, organizando na estante dos sentidos os silêncios que gritam.

Xeque-Mate!

Era um jogo? 

Quem ganhou? 

Não sei. Não sei

Só sei quem perdeu: 

eu, que não sei jogar e que só me joguei.

Você, a chuva e eu, o solo seco de Brasília: 

faz tempo que não te beijo!...

Éramos Eros, hoje, nossos lábios em lados opostos... 

Sigo falando o teu nome, voando alto em meu pensamento ou caminhando pela estrada das horas. 

E você, pensando muito em mim e nos desejos nossos...

(Nós na garganta seca...)

Depois de todos os desencantos - desencontros Tânatos 

- você nem sentiu e nem falou mais nada...

terça-feira, 9 de julho de 2024

Há Lia

A lua escreve a noite rabiscando estrelas.

Rastros de luz na imensidão do céu...

Seu caminhar celeste é seguido por meus olhos

Ilhas perdidas no pensamento sideral.

Siderado espaço-tempo em que nem sei quem sou ou sinto...

E o que sei?:

Há Lia em tudo que cintila vida.

Sento e leio lugares, entre cor e amor, que me percorrem...

Tensões, pulsões, refrações e eu, ali.

Eu a li e tanta escrita me inscreve memórias de afetos e fatos que me transformam em sentipensamento...

Escorrem lágrimas de luzes que se desmancham na tinta, ali.

Brilho silente.

Lia e via: enquanto a lua escrevia a noite,

um mistério azul-escuro se alia aos astros.

Há Lia em tudo que sentí-la




terça-feira, 2 de julho de 2024

Noite Nua

Teu corpo nu

brilhando encanto

cintilando beleza à noite nua,

em meu sentipensamento,

tem força maior que o fausto luar

iluminando o azul noturno do firmamento

Teu corpo nu na varanda dos meus olhos

paisagem bucólica

Explosão do silêncio 

sonho onírico que insiste em me visitar 

à noite... 

Sempre à noite nua

Sempre à luz tua

Luz de lua plena

de delírios fulgurantes 

Entre incertezas, medos, segredos 

um desejo noturno de ser e estar

juntos de nós

dentro de nós 

Enóis

Te bebo

Te fumo

Te como

Te sinto

em ti, em mim

Em nós, um nó: o que somos? 

Nós?

O que nós somos?