segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Banana na fruteira ou a efemeridade do tempo em desespero

Tudo apodrece.
O corpo
As horas
A flor do ipê
As certezas 
A espera de alguém
A melancólica banana na fruteira
O domingo na praia
A dama da noite que plantei e não vingou
O desejo
A vida cheia de viço

Nem sempre fétido
Nem sempre nítido
Nem sempre óbvio
Tudo, tudo já morreu
ou apodrece



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

FLOR EM FULGOR

O encanto do teu corpo nu

performando a luz do luar.

Poesia nua em flor

enebriando o meu pensamento.

teu gesto é verso 

enigma sedutor

Mistério que o meu desejo tenta, 

em vão, decifrar

7 letras que não se repetem

em chamas, tudo aquilo que não posso traduzir em palavras

Em minha memória flamante, 

ardo o fogo do teu nome 

em mim






segunda-feira, 28 de outubro de 2024

OCASO SOLAR E O DELÍRIO EM TARDE SER

Deus?
Os mistérios do mundo?
O tempo?

Me pergunto o que perturba o meu sentipensamento e me deixa assim, parvo, em suspensão sinestésica.

De algum lugar que não sei quem sou ou sinto, me vem a resposta, como um vento de raio que a tudo devassa e leva de arrasto:

o que me confunde as colunas do espírito e me rouba a paz é esse teu olhar fugaz, exitante, que me olha como quem vê medo e desejo dançantes, pactuados em um acordo tácito...

No entardecer dos sentidos, valsando em compasso, numa cumplicidade silente,
o instante infinito do espanto de vidas que se reconhecem no encontro.





"Perto de você me calo. Tudo penso e nada falo. Tenho medo de chorar..." (Último Desejo. Noel Rosa)

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Quem dera...

Minhas mãos percorrem o teu corpo

Ora foge de mim, ora me deseja 

Como um ébrio andando por uma rua desconhecida, 

perdido, a vagar pela noite, procurando se encontrar

Eu te encontro, me encanto e te beijo 

É o meu beijo querendo que você me veja

O tempo é fugaz e se esvai pouco a pouco

Como areia fina na ampulheta das horas de agonia 

Você precisa ir e eu querendo ficar mais com você

Quem dera... Ficar com você, 

Na cama, em lençol, te vejo dormir, tão frágil, tão lindo! 

O sol da manhã, na janela: em nós dois, sós

Você com suas músicas, seu olhar de menino que me atinge em cheio:

arqueiro e seu dardo certeiro dilacerando o meu coração

Ontem, você chegou e trouxe a madrugada em seus pés 

hoje você vai e me deixa o vazio da noite sem o brilho da tua presença

Como o globo espelhado na pista de dança onde fico sozinho

Sem par, sem paz, sem você.

Queria que o tempo parasse

Quem dera...

Queria que você soubesse o quanto te desejo

Meu beijo beija o teu beijo.

Teu beijo é o começo de tudo que se torna poesia e beleza

Quem dera tua presença não fosse uma breve e efêmera surpresa.

Quem dera...

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

NEGRA COR

A minha cor não passa despercebida pelo olhar branco.

Meus passos tem a minha cor e são vigiados, no banco, na farmácia, no restaurante

Suspeição ambulante, tensão constante

Na rua, no bar, na loja de inconveniências o branco se incomoda com a minha cor

Medo, raiva, desprezo, dó, desejo, ódio...

A minha cor confunde os sentidos e os sentires das pessoas brancas

Que me cobram satisfações: de onde? Para que? Para onde? Quem? Você? Como assim?

Minha cor é malvista, mal vinda, malquista

Para pessoas brancas, a minha cor, mesmo vestida de humanidade, está despida, descrida, destituída de dignidade

O Estado é embranquecido e cobra da minha cor: documentos, satisfações, reverência ao seu poder soberano que julga, sentencia e pune: morte ou viver com medo, qual a diferença?

Quem não deve não teme, dizem os brancos. E eu digo: ainda que a dívida seja branca, quem sempre é cobrada é a minha cor.

Minha cor também marca a dor que o prazer branco me causa

Ser branco é não ter cor, é não temer, mesmo devendo.

Todos os dias tentam apagar a minha cor com a borracha branca da colonialidade.

Por isso que, todos os dias, minha cor precisa ser reforçada pela tinta de memória ancestral. 

Negra cor que colore de vida a minha mente, a minha boca e o meu coração.

FIM DE FESTA OU A NOITE ACABOU

 

A luz do salão de festas se apagou dentro de mim

Tudo agora é silêncio e vazio

Não há mais dançantes em seus sorridentes movimentos filauciosos

Risos, músicas, luzes ornamentando o ambiente de alegria e êxtase

Tudo agora é silêncio e solidão

As pessoas se foram e com elas os motivos de celebrar a vida

Automóveis partem do estacionamento, passos se vão embora, para longe

Tudo agora é silêncio e melancolia

Os brilhos da noite, os perfumes que desfilavam entre os convivas

As mentiras, os desejos, as promessas, os segredos, as ostentações

Tudo agora é silêncio e só.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

La calle más grande es el corazón.

Los recuerdos mediterrâneos

Mojan y lavan de añoranza a mis pies al atardecer.

Calles, barrios, caminé mucho por un largo camino

A través de la historia.

Los colores andaluces me llenan el alma: ¿de dónde vienen?

Vinos, sabores, colores,

caminos diseñados por personas y culturas

Que hacen de España un lugar hecho de lugares

reales como los colores del oro y la sangre que ondean en su bandera.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O motorista de aplicativo e o existencialismo

- Boa tarde, senhor
Qual seria ou seu destino?
(eu, silêncio profundo, encerrando o sentimento do mundo em mim)
- Só sei que estou aqui, meu senhor,
No ponto de partida,
Tentando não chegar atrasado
No meu ávido encontro
com a vida


Traduz ir-se

Metade é arte
Outra metade 
É a meta de ser 
Parte inteira
À parte?
De tudo, quase...
Aparte?
De nada, todo.
Metade é arte
Outra metade
Menta,
Arde

Há Sóis

Sonhando com o teu incandescente corpo 

Queimando o vazio na cama

Trazendo calor

Quando a saudade arder em cio

Beber o suor com que me enebrio

Quero-te brincante entre lençóis

Menino vadio

Fazendo amor em nós

Dois sóis


XEQUE-MATE!

Depois de todos os desencontros - desencantos tantos! 

- você achou melhor nos isolarmos e pronto: 

cada um para o seu canto, sem acalanto.

E o pássaro-tempo, que voa mais depressa que o pensamento, em lamento, nos vê do alto: 

nós, sem voz, cada vez mais distantes, organizando na estante dos sentidos os silêncios que gritam.

Xeque-Mate!

Era um jogo? 

Quem ganhou? 

Não sei. Não sei

Só sei quem perdeu: 

eu, que não sei jogar e que só me joguei.

Você, a chuva e eu, o solo seco de Brasília: 

faz tempo que não te beijo!...

Éramos Eros, hoje, nossos lábios em lados opostos... 

Sigo falando o teu nome, voando alto em meu pensamento ou caminhando pela estrada das horas. 

E você, pensando muito em mim e nos desejos nossos...

(Nós na garganta seca...)

Depois de todos os desencantos - desencontros Tânatos 

- você nem sentiu e nem falou mais nada...

terça-feira, 9 de julho de 2024

Há Lia

A lua escreve a noite rabiscando estrelas.

Rastros de luz na imensidão do céu...

Seu caminhar celeste é seguido por meus olhos

Ilhas perdidas no pensamento sideral.

Siderado espaço-tempo em que nem sei quem sou ou sinto...

E o que sei?:

Há Lia em tudo que cintila vida.

Sento e leio lugares, entre cor e amor, que me percorrem...

Tensões, pulsões, refrações e eu, ali.

Eu a li e tanta escrita me inscreve memórias de afetos e fatos que me transformam em sentipensamento...

Escorrem lágrimas de luzes que se desmancham na tinta, ali.

Brilho silente.

Lia e via: enquanto a lua escrevia a noite,

um mistério azul-escuro se alia aos astros.

Há Lia em tudo que sentí-la




terça-feira, 2 de julho de 2024

Noite Nua

Teu corpo nu

brilhando encanto

cintilando beleza à noite nua,

em meu sentipensamento,

tem força maior que o fausto luar

iluminando o azul noturno do firmamento

Teu corpo nu na varanda dos meus olhos

paisagem bucólica

Explosão do silêncio 

sonho onírico que insiste em me visitar 

à noite... 

Sempre à noite nua

Sempre à luz tua

Luz de lua plena

de delírios fulgurantes 

Entre incertezas, medos, segredos 

um desejo noturno de ser e estar

juntos de nós

dentro de nós 

Enóis

Te bebo

Te fumo

Te como

Te sinto

em ti, em mim

Em nós, um nó: o que somos? 

Nós?

O que nós somos?