A minha cor não passa despercebida pelo olhar branco.
Meus passos tem a minha cor e são vigiados, no banco, na farmácia, no restaurante
Suspeição ambulante, tensão constante
Na rua, no bar, na loja de inconveniências o branco se incomoda com a minha cor
Medo, raiva, desprezo, dó, desejo, ódio...
A minha cor confunde os sentidos e os sentires das pessoas brancas
Que me cobram satisfações: de onde? Para que? Para onde? Quem? Você? Como assim?
Minha cor é malvista, mal vinda, malquista
Para pessoas brancas, a minha cor, mesmo vestida de humanidade, está despida, descrida, destituída de dignidade
O Estado é embranquecido e cobra da minha cor: documentos, satisfações, reverência ao seu poder soberano que julga, sentencia e pune: morte ou viver com medo, qual a diferença?
Quem não deve não teme, dizem os brancos. E eu digo: ainda que a dívida seja branca, quem sempre é cobrada é a minha cor.
Minha cor também marca a dor que o prazer branco me causa
Ser branco é não ter cor, é não temer, mesmo devendo.
Todos os dias tentam apagar a minha cor com a borracha branca da colonialidade.
Por isso que, todos os dias, minha cor precisa ser reforçada
pela tinta de memória ancestral.
Negra cor que colore de vida a minha mente, a minha boca e o meu coração.
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