segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Consistência Negra


Na poética ancestral

a inspiração para reinventar a vida me encontra

A cada passado-presente, meu poema reúne fragmentos diaspóricos da alma,

lágrimas, sentires em liquefação,

sangue - gotas de orvalho da carne,

pingando minha vida no solo da memória do sentimento.

Meu negro coração singra em mar aberto,

Sangra

navega em meus versos atlânticos a nau negra da minha alma

Negra
Sopra o vento da memória nas velas do meu sentipensamento

Negro
E o que guarda os porões dessa nau?

Sonhos perdidos

Traumas
Memórias exulcerantes

Escolhas
Abraços desfeitos

Saudades
Silêncios represados

Medos
Amores silenciados

Para onde quero ir?

Quem sou mesmo, agora?

O que quero aqui?

Encontrar a humanidade da minha negritude

Negra cosmopercepção de mundo

Quando o corpo exige libertação

A lágrima-semente germina sonho

O orvalho-ferida amanhece esperançar,

A voz se verte em grito

como quem parte, pela necessidade atávica da liberdade,

deixando para trás tudo o que dói e, sem malas ou dúvidas,

segue viagem rumo ao futuro ancestral.

domingo, 10 de agosto de 2025

JOGO DOS SETE ACERTOS

Veja, é a paisagem!

Atente para os detalhes

Sembra ser ou é certeza?

Levanta s cabeça: deixa a lua ver o teu rosto 

Escuta? É a noite negra construindo o silêncio branco da cidade 

A gente só pensa e não sente? 

(Toda imagem é ruim quando não se quer se ver)

Talvez sombra, talvez assombro, talvez beleza

Há alguém naquela janela do apartamento

Mas, e eu? Onde sou? Não sei... 

Decerto, amanhã desperto

ou será jamais.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

É tanta canção!

Eu não sei o que fazer com tanta canção!
Cantar?
Contar?
Ou simplesmente escutar
Sentir dentro de mim
Me deixar arder por dentro
Por dentro, me inundar de afetações
Não sei...
É tanta canção, meu Deus!
Voz de mágoa,
Alegria, alegria
Solidão
Flores
A paz
Paixão que arde
Tanta saudade!...
Cores
Memória de algum lugar
Uma canção me encanta
Outra, me encontra
Uma hora ou outra me alcança
Canções algumas vezes me cantam
Muitas vezes me calam
Não cansam os corações de tanto pulsar?
Não cansam as crianças de tanto brincar?
Não cansam os sonhos de tanto esperar?
Não cansam?
Cansam, não 
Canção.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Dorme

Na cama, teu corpo envolto nesse cobertor que te abraça
Todas as calmas te cobrem de paz
Dormes o sono plácido de criança cansada de tanto domingo
Tudo é quietude, sossego, calmaria
O meu amor vela o sono teu como quem contempla a beleza da vida
Meu olhar te beija suavemente
Não há o peso da razão, as certezas angustiantes, a pressa das horas...
Apenas o teu rosto sereno que expressa a mais profunda tranquilidade
O quarto, a cama... pareces tão confortável no lugar que é seu!
Vejo-te tão frágil, dormindo profundamente...
Cai a noite, tudo dorme: a flor, a rua, o tempo, as luzes, os passarinhos...
Mas, o meu olhar segue cioso de te ver dormindo
Enquanto eu, acordado, te sinto, te espero, penso em ti
Em teu doce sono descansas, como o verso que te versa na poesia silente do meu sonho.



domingo, 2 de fevereiro de 2025

Memória Pioneira: entre a Vila e a Morte

Lago Paranoá

Paranóia noir

Logo paira no ar os cheiros e cores do crepúsculo

A linha do tempo, o espaço, tudo planejado: lago artificial

Lago Lego?

Nado ou nego?

Lágrimas doces do planalto inundam a Vila Amaury

Memória é sentimento submerso

Cidade e saudade na profundidade

Rádio comunitária, parque de diversões com roda gigante,

ruas estreitas sem forma e sem luz,

um comércio aqui, outro ali,

um pequeno cinema com algumas cadeiras e projeções,

bares para embriagar angústias e incertezas,

casas feitas de madeira velha, suor e esperança candanga

fugindo da miséria, enganados pela grande mentira do capital...

Restos de grandes construções da capital,

sobras de obras, fragmentos de vida...

Deserto...

Tudo em ruínas submersas nas águas da ilusão

que só podem ser vistas por quem consegue mergulhar

no mais escuro e profundo da história... 

Aqui, as águas também são setoriais 

Decerto!

e só não molham o seco sorriso das empreiteiras havidas

ávidas! 

Havido o progresso, há vida em processo?

E o povo, de lá? Para onde foram todos com seus pertences e desespero?

Quem sobreviveu à morte, ainda vive o presente 

embrulhado em papel de futuro incerto?

Passado-presente: tempo excerto...

Em Brasília, quem sabe, ao certo, se está errante ou perto?


sábado, 1 de fevereiro de 2025

Pelas ruas da AN

Na SQN, ouvi barulho de chuveiro e gente tomando banho em algum apartamento aqui perto

Saí do Espaço Cultural Mapati e passei pela W3 Norte: à noite, a solidão enche as ruas

esvaziadas de alma e sentido.

Numa melancólica lanchonete de rua, vi um vendedor solitário e triste, 

 assistindo a vida passando no telejornal local.  

Apertei o passo, voltando para casa, estava começando a chuviscar...  

Ontem, fui à padaria e, quando voltei, passei por um pé frondoso de dama da noite, aleatório

- Boa noite!

Cumprimentei uma senhora que me ignorou solenemente, 

como quase sempre acontece com quem cumprimenta alguém nas ruas...

A Asa Norte tem umas coisas!...

Sentires em Liquefação

Sonhos perdidos?

Traumas?

Memórias exulcerantes?

Escolhas?

Abraços desfeitos?

O que faz pesar um lágrima?

Saudades?

Silêncios represados?

Medos?

Amores silenciados?

Que peso carrega uma lágrima?

E em que instante, de tão pesada, precipita cálida, dos olhos, 

como alguém que, pela atávica necessidade de liberdade, 

foge de algum lugar, 

deixando todo o peso para trás e, sem malas ou dúvidas, 

se vai, para nunca mais voltar?