No domingo, eu vi, da
minha janela, a chuva caindo e levando tudo, rua abaixo.
As folhas, a terra, à
noite... tudo sendo levado pela enxurrada.
Não fechei a janela.
Não pude, não quis...
A chuva molhou de som
o silêncio seco que sufocava a rua.
Ninguém lá fora
Nada aqui dentro
A quarentena imposta nos
faz, a todos, reféns do medo.
Nada nem ninguém... só um cachorro
aleatório, uivando,
talvez por solidão,
talvez por frio, talvez por tristeza...
Não sei por quê...
E a chuva, alheia a
tudo, caindo copiosamente, diante dos meus olhos
insones,
molhados pelas horas que se iam furtivas...
Chuva fria como álcool
gel
Gélida chuva
Insones olhos
Olhos insanos
Tremendo pela noite,
Temendo
pela morte,
Pela vida que se
perdeu, em alguma esquina do meu quarto vazio de cor, de luz, de sentido.
Que doença é essa que
me aprisiona?
Medo viral
Vira medo real e me
contamina
Se a chuva pudesse me
lavar dessa angustia!...
Ah, se a chuva me
levasse!...
Lavar as minhas mãos
Levar meus pés, para onde?
Ir para longe?
Não há lugar para
onde ir,
Nem o que fazer,
além
de ficar quieto, enquanto a chuva cai,
indiferente
A mente tranquila
(Tranquila mente?!)
Eu me finjo
E fujo, me isolando
da vida lá fora
Permaneço aqui
dentro,
Aqui, do 4º andar, vendo
a chuva caindo e levando
meu sono, as horas,
minhas certezas, minha paz....
E a vida que eu
tinha?
Se foi, com a chuva, pra
nunca mais.
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