Na lata velha de tinta que pintou o muro de esperança?
No orvalho que molha as folhas com o suor da noite (cansada de tanto anoitecer)?
No efêmero olhar de quem deseja em secreto?
Em uma caneca branca de café sobre a mesa da espera?
No assobio resignado do trabalhador que caminha de manhã bem cedinho?
Presa na camisa vermelha, molhada
de memória, no varal do tempo?
Nos abraços que se evaporam no instante eterno da despedida?
Atrás do vidro embaçado da janela do quarto?
Na agonia de quem nada pode fazer
diante do pragmatismo das horas?
Na solidão dos poetas inglórios?...
A poesia prefere os lugares absurdos.
Como esse teu cheiro doce que mora em meu pensamento.